O ‘Fórum do Amanhã’ aconteceu na cidade histórica de Tiradentes, de quinta-feira,até domingo, dia 27. Os painéis, que contaram com nomes como o filósofo Domenico de Masi e o economista Eduardo Giannetti, discutiram os possíveis caminhos de evolução futura para o Brasil até 2030, em diversas áreas do conhecimento, focando em assuntos como educação, economia compartilhada, cidades, inovação e meio ambiente. Entre os convidados, nomes envolvidos em projetos inovadores em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas, participaram das discussões, apresentando iniciativas e debatendo perspectivas.
Para o deputado estadual Ulysses Gomes, o município merece esse destaque por ser referência em estudos e projetos que trazem a inovação como norte. “Santa Rita é um Arranjo Produtivo Local Eletroeletrônico (APL) dos mais bem-sucedidos de Minas Gerais, além de ser um dos mais antigos e consolidados do país. Enquanto Estado, estimulados a discussão e buscamos investimentos financeiros para que isso se fortaleça”, declarou. Vale lembrar que Ulysses promoveu a audiência pública que solicitou a criação da APL e o Governo do Estado, além de aprovar, fez em 2016 investimentos de mais de R$ 6 milhões no município, via Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento. “Em maio o governador Fernando Pimentel lançou o Fundo de Investimento em Direitos Creditório (FIDC) para empresas instaladas na cidade para obtenção de crédito de forma mais vantajosa e econômica”, recordou o deputado.
No evento ‘Fòrum do Amanhã’, a primeira participação foi a de Carlos Henrique Vilela, um dos criadores do Hack Town e head de marketing da Leucotron, empresa que faz parte do chamado Vale da Eletrônica, ecossistema empreendedor de Santa Rita do Sapucaí. Em painel sobre inovação nas cidades, que também contou Mateus Silveira, da área de futures insights da FCA (Fiat Chrysler Automobiles) e David Travesso, CEO e sócio da FIR Capital, Vilela apresentou um projeto coletivo do qual faz parte, o movimento Cidade Criativa, Cidade Feliz, que vem ajudando a transformar a cidade de Santa Rita. O movimento, segundo ele, é um coletivo de instituições privadas e públicas, além de voluntários, que se engajaram no propósito de ajudar a transformar Santa Rita do Sapucaí em uma cidade mais criativa, ativa, empreendedora e inovadora. O objetivo é ampliar a diversidade da economia local, com o fortalecimento da economia criativa, além de conectá-la com o polo tecnológico que existe na cidade. “Com mais pessoas empreendendo na economia criativa, a cidade se torna mais gostosa de viver, o que atrai e mantem os jovens na cidade, além de ajudar a desenvolver um senso crítico, a criatividade e o lado humano de toda a população, e até mesmo das empresas”, destacou Vilela. “Afinal, Santa Rita tem uma vocação tecnológica, mas para desenvolver tecnologia relevante e inovar no modelos de negócio, é essencial empatia, criatividade e entendimento do ser humano”, completou. O movimento teve início em 2013, em um festival de uma semana, com atividades educacionais, artísticas, palestras e entretenimento, envolvendo toda a população. Hoje já são mais de um mês de atividades, com a conexão das diversas culturas existentes para a formação de uma nova. Na prática, afirmou Carlos, “é um grupo de teatro que se uniu a um grupo de dança e a uma banda de rock e juntos criaram um musical autoral que foi sucesso e acabou virando um curso de espetáculos musicais, é o pessoal do hip hop levando grafite e música para outras partes da cidade, empresas de tecnologia que passaram a conhecer as ferramentas como o Design Thinking e a se transformar para a era digital, eventos de música e gastronomia que passaram a acontecer com frequência no centro e também em locais de menos acesso a cultura, experiências educacionais que misturam áreas e metodologias distintas, novas startups que utilizam da tecnologia para resolver grandes problemas globais, é um produtor de café que criou uma marca e foi inspirado a fazer uma Coffee Bike para um dos eventos e foi para na TV em rede nacional após decidir franquiar a iniciativa, um dono de boteco que convidou empreendedores criativos a usar sua estrutura e virou um coworking pouco convencional, além da geração de outros novos negócios em economia criativa e tecnologia criativa, como o evento Hack Town, que ocupou todo o centro de Santa Rita com palestras, workshops e shows, e vem sendo considerado um dos mais inovadores do país no momento”. No fim das contas, afirmou Vilela, o movimento se transformou em uma plataforma em rede para testes e experiências para projetos criativos e ousados, empoderando as comunidades e promovendo a troca de recursos não-financeiros já existentes, como a estrutura das instituições e o conhecimento das pessoas envolvidas na rede.
Outro participante do município foi Marcos David, da startup Dágora. Ele participou de um painel sobre inovação da educação, ao lado de Luiz André Soares, da Coca Cola, do educador Rodrigo Nascimento e de Paulo Emediato, cofundador do MESHA. Primeiro, apresentou sua startup, incubada no Inatel, em Santa Rita do Sapucaí, e acelerada pelo Seed, em Belo Horizonte. Em seguida, contou sobre a origem da empresa e seu funcionamento. Inquietado pelo movimento de pessoas aprendendo mais em vídeos no Youtube do que nas salas de aula, comentou, David resolveu criar uma solução para o problema. Misturou professores e um ambiente digital estruturado, com uma plataforma totalmente nova para que as pessoas ofereçam seus cursos para um grande número de pessoas, e ainda ganhem dinheiro com isso. Desta forma, destacou Marcos David, ao invés de poucas pessoas pagarem caro para assistir um curso, é possível, por meio de um financiamento coletivo e da sua própria plataforma de relacionamento, criar comunidades de aprendizado e ter um público grande participando de cursos por um valor pequeno. Com um serviço inovador, a Dàgora representa a leva de startups que vem inserindo o Vale da Eletrônica na nova economia digital.
Santa Rita também foi assunto no painel O Boom das Startups, que teve participação de Gustavo Caetano, CEO da startup Sambatech, Fábio Veras, da FIEMG, e Paulo Emediato, do MESHA. Ao ser perguntado sobre o ecossistema empreendedor de Santa Rita do Sapucaí, Gustavo contou que admira e respeita muito o polo conhecido como Vale da Eletrônica, e que este tipo de ecossistema mostra a maturidade do país. Ele comentou que no Vale do Silício há características que só ocorrem lá, já na região de Boston, por exemplo, existe um polo muito forte de desenvolvimento e produção de equipamentos para a área medica, no Oregon existe um polo forte na área de tecnologia para o varejo, na região de Seattle, um ecossistema forte na área de vídeo. “O ecossistema de Santa Rita é brilhante”, destacou Gustavo Caetano. “Tem coisas grandes lá que a gente nem conhece, e os caras estão fazendo coisas de ponta”, concluiu. Em seguida, Fabio Veras complementou lembrando a história do polo, com Sinhá Moreira, senhora nascida em Santa Rita do Sapucaí que, após experiências no Japão, separou de seu marido, diplomata no país, voltou a Santa Rita e criou a primeira escola de eletrônica do Brasil — tudo isso na década de 50, logo após da segunda guerra. “Ela curtiu aquilo. Ela foi disruptiva. Quantas mulheres de embaixadores no mundo estão vendo coisas? Ela viu e trouxe. Então tem uma cunha ali. A cunha do técnico, da formação técnica de qualidade, que fez nascer o Inatel, que é uma potencia reconhecida no mundo”, afirmou Veras. No entanto, ele destacou que ainda falta no Vale da Eletrônica o traço do empreendedorismo digital. Segundo Fábio, é o melhor dos mundos ter uma alta capacidade de formação de pesquisadores, ter incubadoras de ponta, como a do Inatel, onde contou que esteve há duas semanas, e também ter uma forte cultura de startups, que vem ganhando força no Vale da Eletrônica. “Não existe nenhuma cidade no Brasil igual Santa Rita. Zero. Nenhuma, nem Belo Horizonte. A anatomia é muito diferente”, comentou. “No entanto, para dar um grande salto, vai ser preciso trabalhar a capacidade de hardware com software aplicado, mas com modelos disruptivos de negócio”. E as principais oportunidades, segundo Veras, estão na Internet da Coisas. Mas deixou um alerta: “Acho que Santa Rita tem que mergulhar na Internet das Coisas. Ela não mergulhou ainda e está demorando. A cidade ainda está em uma posição de conforto e, se não for rápida, pode deixar de dar o salto”, concluiu.
Fonte: Com informações da Cidade Criativa, Cidade Feliz