Deu o que falar a convocação da seleção feita nesta semana pelo técnico Dunga. A meu ver, as escolhas não agradaram a maioria: “Chamou esse, que não joga um terço daquele outro, que ficou de fora…” Mas a principal justificativa do técnico para suas decisões nos faz pensar em 2006, quando uma seleção de estrelas parecia fazer algo corriqueiro nos gramados e decepcionou a nação. Dunga disse ontem aos jornalistas: “Algumas coisas que pautamos foram o comprometimento, a atitude, paixão, a emoção de jogar na seleção.” Lembramos 2006 e calamos. Talvez ele esteja com a razão.
Quem não busca trabalhar e conviver com pessoas motivadas? Começar um projeto novo com quem tem brilho nos olhos, enfrentar desafios ao lado de quem demonstra comprometimento e garra faz toda a diferença!
Vejo que a palavra motivação exerce um grande efeito sobre as pessoas. É muito citada atualmente no mundo do trabalho. E alguns agem até como se pudéssemos fabricá-la e comercializá-la em cursos e palestras. Mas a motivação age como uma força interior, uma intenção que leva a pessoa a fazer ou agir desta ou daquela maneira. Uma faísca, uma centelha que determina se eu fico sentado no sofá ou vou dar uma corrida. Se vou aperfeiçoar aquele trabalho ou se deixo como está para ver como é que fica.
Entendo que o que motiva uma pessoa pode não motivar outra: situações, diálogos, metas colocadas vão funcionar de maneira extremamente personalizada. Instigante para um, um balde de água fria para outro… A grande questão é o próprio sujeito descobrir o que o motiva e procurar situações que propiciem esta vivência. Circunstâncias motivadoras diferentes vão fazer a vida ter um sabor variado e propiciar mais prazer na superação de desafios.
Outra palavra em que a declaração de Dunga me fez pensar é na proatividade, esta menos conhecida, mas não menos importante. O significado de proatividade, segundo o dicionário, é a capacidade de se antecipar a situações, necessidades e problemas futuros. Isso significa, para começar, que a pessoa proativa tem senso de prontidão. Não espera a casa cair para ir procurar estacas.
Mas o psicólogo judeu que teve experiências marcantes num campo de concentração, Viktor Frankl, foi quem cunhou a expressão e a exemplifica no seu livro Em Busca de Sentido, de 1946: “Nós que vivemos em campos de concentração podemos nos lembrar que os homens que percorriam as barracas para confortar os outros, abriam mão de seu último pedaço de pão. Eles podem ter sido poucos em número, mas sustentaram prova suficiente de que tudo pode ser tirado de um homem, exceto uma coisa: a última de suas liberdades. O poder de escolher sua atitude em um determinado arranjo circunstancial — a escolha de seu próprio caminho”. Ou seja, a liberdade de escolher como agir, testada até em situações de privação máxima, como o campo de concentração, realça a dignidade do ser humano. Dignidade que se mostra em fazer escolhas coerentes com os valores que se tem. Tomar ciência deste poder e não projetar sobre outras pessoas a responsabilidade pelas suas escolhas e, em suma, pela própria felicidade. Isto diferencia um sujeito com brilho nos olhos de outro que apenas passa pela própria vida, como um figurante de um espetáculo do qual nem conhece o roteiro.
Copa do Mundo mexe com o brasileiro. E esta começou bem. O que Dunga está querendo não é pouca coisa. Ele quer gente feliz no campo. Se vamos conseguir trazer a taça, não dependerá apenas disso. Mas se, pessoalmente, conseguirmos colocar um pouco mais de motivação e proatividade em nossas vidas, a vitória começa a caminhar conosco, a cada dia.
Ulysses Gomes, ex-vereador em Itajubá e graduado e pós-graduando em Administração Pública.