Um telescópio russo vai ser instalado no Observatório Pico dos Dias, em Brazópolis (MG), para monitorar lixo espacial. A cerimônia para assinatura do acordo entre o Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e a estatal russa Roscosmos acontece nesta quinta-feira (7), a partir das 8h30, na sede do LNA em Itajubá (MG). É o primeiro telescópio deste tipo instalado no Brasil, que também será o primeiro país a receber o projeto da Rússia.
O objetivo é fazer um mapa de todos os detritos espaciais que estão em órbita da Terra, que são os pedaços de satélites velhos ou de foguetes que foram lançados e que continuam em órbita.
“Qual a importância de ter esse mapa? Quando você coloca um satélite novo que custou milhões de dólares ou até mais em órbita, você pode estar colocando ele bem onde vai passar um pedaço desse lixo espacial, e pode colidir com o seu satélite novo e destruir ele. Então você pode perder milhões de dólares num satélite e anos de trabalho com a colisão com um pedaço de lixo”, explica Bruno Castilho, diretor do LNA.
Concepção artística do telescópio que será instalado em Brazópolis, MG (Foto: Arquivo Pan EOS)
Com o mapa, também será possível monitorar o caminho dos satélites. Caso algum saia da órbita para entrar na Terra, é possível prever onde o objeto vai cair e acompanhar os pedaços maiores, evitando algum acidente grave.
A partir da assinatura do acordo, começará a construção do telescópio no observatório de Brazópolis. Todo o investimento está sendo custeado pela estatal russa, inclusive o fornecimento do telescópio e computadores. Apesar de o projeto ainda não estar concluído, a previsão, segundo Castilho, é que o investimento fique em torno de R$ 10 milhões.
A Fundação de Apoio à Pesquisa de Itajubá (Fupai) irá gerenciar os recursos e acompanhar a construção. A previsão é que o telescópio seja inaugurado em novembro deste ano. Após a fase de testes, o mapa já começa a ser gerado em 2017.
Mapeamento
Segundo Castilho, o projeto russo começou há cerca de dois anos. O país já tinha interesse em rastrear o lixo espacial e tentava por outros meios descobrir a órbita dos satélites. O telescópio foi uma forma eficiente e mais barata de fazer esse rastreamento. O primeiro equipamento foi instalado nas montanhas Altai, na Rússia, e já está em operação.
Segundo o diretor do LNA, Bruno Castilho, quando o telescópio fotografa o céu acompanhando o movimento da Terra, as estrelas aparecem como um ponto e os satélites aparecem como um risco, pela diferença de movimento entre os dois no céu
“Como a Agência Espacial Brasileira já tinha um acordo com a Agência Espacial Russa pra uso do espaço, os russos procuraram a gente pra sediar esse segundo telescópio deles. Eles avaliaram a localização, no Pico dos Dias, e acharam o lugar perfeito, que fica numa boa posição em relação ao russo”, explica Castilho.
Os dois equipamentos ficam em posições afastadas em relação ao outro e vão fotografando o céu, fazendo um mapeamento de toda a área. “Quando o telescópio fotografa o céu acompanhando o movimento da Terra, as estrelas aparecem como uma bolinha, um ponto, e os satélites aparecem como um risquinho, porque ele se mexe diferente no céu”, explica.
O grupo de astrônomos brasileiros vai fazer o gerenciamento dos dados e repassar para a agência russa. Comparando a imagem da Rússia com o outro telescópio, é possível ter precisamente a órbita do pedaço de satélite velho. “E aí, quando for lançar um satélite novo, seja russo, seja brasileiro ou de algum país que tenha interesse, essa órbita é segura porque não tem lixo”, completa Castilho.
O Brasil está sendo o primeiro país a receber o projeto da Rússia. Se funcionar, segundo Castilho, outros equipamentos podem ser instalados em outros países para fazer uma análise mais precisa.
Telescópio semelhante ao do projeto que já está instalado na Rússia (Foto: Arquivo Altai Asia Central)
Pesquisa no Brasil
Com 1.864 metros de altitude, o Observatório do Pico dos Dias já possui quatro telescópios para pesquisa astronômica, mas como explica Castilho, todos os equipamentos brasileiros têm um campo de visão pequeno.
“A diferença entre os telescópios é o pedaço do céu que ele enxerga. Nosso telescópio de astronomia enxerga um pedacinho do céu com uma ampliação maior. Dá pra ver detalhes do objeto, da galáxia, se você quer ver a luz de uma estrela específica. Assim o campo de visão é pequeno.”
Já o telescópio russo tem um campo de visão maior, capaz de mapear uma área mais extensa. Este será o único equipamento deste tipo instalado no Brasil, e justamente por isso, a contrapartida do projeto é que os astrônomos brasileiros vão poder usar os dados para outras pesquisas que ainda não são possíveis no Brasil.
“Todos os dados que eles gerarem ficam disponíveis para os astrônomos brasileiros. Dá pra descobrir novos asteroides, ou um cometa que está vindo na nossa direção, estudo de estrelas variáveis, coisa que hoje não se faz aqui porque todos [os telescópios] são de campo pequeno. Nós vamos emprestar o local e eles vão deixar a gente usar esses dados sem custo nenhum. A astronomia brasileira está ganhando e a área espacial também, porque vai ter essa segurança [da área espacial mapeada]. Pode ser que outros projetos no futuro aconteçam por causa desse”, finaliza Castilho.
Fonte: Samantha Silva (G1 Sul de Minas)