Áudio poderia indicar tentativa de burlar informação sobre vacinação; ex-chefe de Comunicação diz que isso não procede.
Perguntas sobre o vazamento de áudio pela imprensa de Belo Horizonte, no último 22 de abril, de reunião de representantes da Secretaria de Estado de Saúde (SES) que poderia ter sido feita para burlar informações sobre a imunização irregular de servidores da pasta dominaram audiência, nesta quinta-feira (29/4/21), da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fura-Filas da Vacinação, da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
O ex-assessor-chefe de Comunicação da SES, Everton Luiz Lemos de Souza, que participou dessa reunião no dia 22 de abril, prestou depoimento à CPI na condição de investigado, nesta quinta (29). A oitiva do ex-chefe de gabinete da secretaria, João Márcio Silva de Pinho, que também estava prevista, foi transferida para a próxima segunda (3/5).
Segundo Everton Lemos, 15 pessoas foram vacinadas na Assessoria de Comunicação, sendo que duas estavam em teletrabalho, fato de que tomou conhecimento quando o Ministério Público (MP) solicitou a lista com os nomes dos funcionários imunizados e o regime de trabalho.
Para o presidente da CPI, deputado João Vítor Xavier (Cidadania), a gravação divulgada e as notas taquigráficas da referida reunião dão a impressão de que o ex-chefe de gabinete tinha pedido para que Everton Lemos mudasse a classificação do trabalho desses dois servidores, de teletrabalho para trabalho presencial, de forma retroativa, e que ele havia se negado a fazer isso.
Everton Lemos disse que esse entendimento não procede. Ele relatou que a reunião do dia 22 de abril, da qual cinco pessoas participaram, entre elas os dois servidores vacinados, foi realizada dentro da legalidade, com o objetivo de comunicar a eles que voltariam ao trabalho presencial.
Ainda de acordo com o ex-assessor-chefe de Comunicação, a sugestão de João Márcio Silva era para uma mudança na minuta que seria enviada como resposta ao pedido do MP.
Everton Lemos contou que estava na SES há pouco tempo, tendo ingressado no órgão a convite do atual secretário de Estado Fábio Baccheretti, após a exoneração de Virgínia Cornélio da Silva. Ela foi afastada por envolvimento com denúncias de vacinação de servidores fora do grupo prioritário.
“Na verdade, eu ainda estava me inteirando do funcionamento da secretaria. Quando cheguei, estava com uma demanda absurda da imprensa, porque o novo secretário de Saúde tinha sido nomeado. Trabalhava de 13 a 14 horas por dia”, disse.
Segunda dose- O presidente da comissão também perguntou a Everton Lemos se ele sugeriu alguma lista com nomes de servidores que receberiam a segunda dose da vacina, como ocorreu na primeira dose, quando a então chefe do setor fez essa listagem. Ele disse que não e que houve publicação no Diário Oficial Minas Gerais sobre a disponibilidade de vacinas para a segunda dose.
Deputados fazem questionamentos a investigado
O deputado Cássio Soares (PSD), relator da CPI, questionou se Everton Lemos foi vacinado e se foi convidado a se vacinar, ao que ele respondeu que não. Ele também fez perguntas sobre sua trajetória no serviço público.
Everton respondeu que é publicitário, tinha cargo em comissão e ingressou no serviço público em 2012, tendo atuado na Ouvidoria-Geral, na Defensoria Pública e na Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig).
O deputado Ulysses Gomes (PT) perguntou, dada a relação de Everton Lemos com o atual secretário de Saúde, se ele havia conversado com Fábio Baccheretti sobre a vacinação irregular. Ele respondeu que não e que o assunto foi levado ao então chefe de gabinete.
O parlamentar ainda questionou Everton Lemos sobre o motivo pelo qual foi exonerado. “Recebi a justificativa de que, como o áudio tinha sido vazado, eu seria desligado até apurar o que ocorreu”, respondeu.
Para o deputado Noraldino Júnior (PSC), há indícios de crimes cometidos. “Primeiro, servidores foram vacinados de forma irregular. E, além disso, possivelmente um deles que participou da reunião a gravou sem autorização e vazou a informação”, ressaltou.
O deputado Roberto Andrade (Avante) perguntou se o áudio divulgado com cerca de 28 minutos representava toda a reunião. Everton Lemos respondeu que sim, pelo que se lembrava.
Everton Lemos declarou, no fim da oitiva, que o vazamento do áudio lhe causou grande prejuízo. “Quero esclarecer os fatos. Tinha pouco tempo que estava na secretaria, não participei de processo de vacinação, não participei de nenhum processo decisório com relação a quem seria vacinado ou não. Não fui vacinado e não tenho pretensão de atrasar nada relacionado aos trabalhos desta CPI”, completou.
Requerimentos são aprovados
Ao final da audiência, foram aprovados dois requerimentos de pedido de informações ao ex-assessor-chefe de Comunicação Social da SES. Os documentos solicitam o nome dos servidores lotados na Comunicação Social que foram vacinados, a função e se estavam em teletrabalho ou trabalho presencial à época da vacinação.
Além disso, também pedem informações sobre quem eram os servidores presentes à reunião cujo áudio foi vazado à imprensa, que sugeriu que o governo pode ter tentado atrasar a investigação da CPI da ALMG.
Também foram aprovados requerimentos pedindo o nome de trabalhadores que já foram vacinados em diversas superintendências regionais de Saúde.