(Do G1)
Uma pequena cidade de 11 mil habitantes no Sul de Minas tomada pela literatura. Assim foi a primeira edição da Feira Literária de Cristina (FLICristina), realizada entre os dias 20 e 24 de abril deste ano. O evento foi organizado de forma “artesanal” e experimental por um grupo de moradores da cidade para oferecer atividades gratuitas nas áreas de literatura, artes visuais, dança, música e teatro.
“É um evento que veio para ficar, para facilitar acesso do público a uma ampla gama de títulos a preços reduzidos, oferecer atraente programação cultural com foco no livro, na leitura e na literatura, forte acento nos diálogos entre educação, literatura e as artes”, explica Ninil Gonçalves, pesquisador da área de educação e coordenador da FLICristina.
Entre os nomes da literatura atual, a feira conseguiu levar escritores como o pernambucano Marcelino Freire, que participou de uma conversa com o escritor mineiro Evandro Affonso Ferreira na oficina de criação literária.
“É muito importante que um primeiro evento seja feito. É a primeira edição, o que chamo de ‘evento número zero’. É importante para a cidade, para colocar a literatura e interferir na geografia do lugar”, disse Freire após participar do evento.
Admirada, a escritora paulista Andréa Del Fuego destacou a importância de realizar um evento assim no momento atual. “Só de ter tido a vontade e iniciativa de fazer uma feira assim numa cidade de 11 mil habitantes, numa situação em que o país se encontra, já é absolutamente louvável. Gostaria que todos que pensaram nesse evento não tentassem imaginar apenas um retorno material, um tipo de evento desse o retorno é imaterial, para os próprios habitantes. É a troca que se recebe de material humano nessa conversa”, comentou.
A programação do evento trouxe ainda atividades na praça voltadas às crianças, com intervenções, contação de histórias, lançamento de livros, brincadeiras, cinema, oficinas e até a “Creche Chapeuzinho Vermelho”. O Centro de Cultura da cidade e a Câmara de Vereadores receberam as oficinas de encadernação, percussão, maquiagem para cinema, teatro, entre outras.
Intervenções
O patrono do evento foi o escritor João Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão Veredas, e citações da vida e obras do autor se espalharam pela cidade nos dias do evento. Leituras públicas, “folhas literárias” – com poesias dependuradas nas árvores e monumentos de toda a cidade – além de intervenções nas calçadas e performances pela cidade chamaram a atenção dos moradores.
“Seu” Sebastião, como conta Cristina Borromeo, da equipe executiva do evento, foi um dos muitos que pararam na frente de uma poesia pregada na grade da praça principal da cidade. “Ele declarou que ‘mesmo não sabendo ler muito bem, se sentia encantado com tudo o que estava vendo, e o pouco que conseguia ler e entender nas folhas literárias’”, comemora Cristina.
A dedicação em levar a literatura para todas as pessoas não para por aí, e a coordenação da feira já se programa para fazer mais uma edição do evento. “A segunda edição já está agendada, trazendo Carlos Drummond de Andrade como patrono e o lema ‘Mundo mundo vasto mundo'”, revela Gonçalves.