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Alimentos regionais transformam a alimentação escolar em Minas Gerais

O que tem hoje na merenda? A pergunta intriga alunos da escola Estadual Marechal Castelo Branco, em Uberlândia, no Triangulo Mineiro. Desde que a unidade passou a fazer pratos típicos da região, os estudantes comem mais e melhor. E a cozinha local se tornou valor para eles.

A estudante Sabrina Rodrigues, da oitava série, espera ansiosa o dia da galinhada. O cheirinho do frango dourado na cebola, misturado no arroz vai ganhando os corredores da escola. A pressa para formar a fila da merenda mostra o entusiasmo dos adolescentes. “Na hora do recreio, eu gosto de ir logo me servir”, diz Sabrina, lembrando que muitos colegas “nem bem terminam de comer” e já voltam para repetir.

O cardápio inclui ainda torta colorida feita com massa de mandioca cozida, carne moída, repolho e tomate. Tem também a canjicada e a carne moída, acompanhada de arroz, feijão e legumes. O abacaxi, fruta típica da região, é uma das estrelas da alimentação escolar, servido como sobremesa, usado em saladas, sucos e outros pratos.

Segundo a diretora, Maria Floripes da Silva, a preocupação com o valor nutritivo dos alimentos, a valorização da cultura gastronômica do Triângulo Mineiro e o reaproveitamento como, por exemplo, as cascas de legumes locais e a abóbora cabotiá, permitem que os pratos despertem interesse pela comida e pela tradição: “E os produtos vem direto do agricultor tornando a alimentação ainda mais saudável”, afirma.

Legumes e verduras chegam toda semana ou quinzenalmente e são comprados de acordo com a sazonalidade, garantindo frescor e economia. Tudo comprado dos agricultores de lá mesmo: arroz, feijão, milho verde na palha, queijo curado, repolho, tangerina, tomate e mel.

O garoto Cauan Pereira de Almeida, 12 anos, fã das sopas de batatas, sente a diferença no paladar. “É bom quando a gente sabe de onde vem as verduras, frutas. E o alimento fica mais saboroso”, atesta o estudante.

A mandioca fresca está tão fresquinha que chega a derreter depois de cozida e  dá gosto especial à vaca atolada, um pratos ideias para o clima frio na Estadual Nossa Senhora de Montserrat, em Baependi, no Sul de Minas. “É muito melhor cozinhar com produtos dos agricultores daqui. Tem mais gosto, mais cor. Além disso, tudo é feito com muito amor”, afirma a cantineira Sandra Fortunato.

Sandra também faz o arroz de forno feito com cenoura, milho, vargem, frango desfiado, salsa e cebolinha. O feijão tropeiro ou feijoada acompanhada de arroz e couve são sucesso entre os alunos. Para aqueles que prezam pela carne de porco, a receita especial de canjiquinha com costelinha também foi aprovada: “A merenda daqui é muito saborosa. Ninguém deixa no prato e chega a repetir”, elogia Sara Diulia Soares uma dos 1,2 mil alunos da Nossa Senhora de Montserrat que oferece os ensinos fundamental, médio e na Educação de Jovens e Adultos(EJA).

Qualidade e saúde

Os produtos da agricultura familiar são orgânicos, agregando mais propriedade nutricional ao alimento.” É um ganho para as escolas porque é coisa da terra, sem agrotóxico. A gente recebe produtos mais naturais e, por outro lado, ajudamos os agricultores”, afirma Dalva Maciel Rollo, tesoureira da escola.

A escola de Baependi recebe alimentos da agricultura familiar toda semana. Da lista constam itens como mandioca, alfaçe, abóbora, beterraba, cenoura, abobrinha, feijão, fubá de milho, canjiquinha, alfaçe, chuchu, couve, repolho, laranja, mexerica, banana prata, banana nanica, pó de café, batata doce, salsa, bata inglesa, cará, inhame, brócolis, couve flor e vargem.

A estudante Sara Diulia sabe da importância de se ter uma alimentação saudável. “Com os produtos fresquinhos, os alunos ficam bem servidos”, afirma.


Programa Alimentação na Escola

Em Minas Gerais, o cardápio da alimentação escolar é feito por uma equipe de nutricionistas da Secretaria de Estado de Educação (SEE). Segue recomendações do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em relação aos parâmetros nutricionais, preparação, consistência, armazenamento e conservação dos alimentos.

A lista de 75 preparos serve de referência para as escolas que podem aprimorar e fazer adaptações, valorizando a produção regional e a aceitação dos alunos. Segundo a coordenadora do Programa Alimentação na Escola da SEE, Valéria Monteiro, a intenção da secretaria é melhorar a qualidade e a variedade do alimento que é oferecido aos estudantes.

Monteiro lembra a recente capacitação de 120 cantineiras e cantineiros de escolas estaduais das 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs). Durante o treinamento, eles aprenderam como aproveitar melhor os alimentos, conhecer suas propriedades, diminuir o desperdício através de escolha e manipulação adequadas e contribuir para uma alimentação saudável nas escolas.

Outro reforço para a alimentação escolar é o processo seletivo simplificado, em andamento, para a contratação de 53 nutricionistas para atuar em cada Superintendência Regional de Ensino (SRE) e também na SEE. Os profissionais serão responsáveis pela supervisão de refeitórios, cozinhas, locais de armazenamento de alimentos, além de ajudar as escolas a aprimorar o cardápio.

Direto do produtor

Os produtos adquiridos diretamente dos agricultores locais têm tornado o cardápio das escolas mais nutritivo. A compra é feita por meio de chamadas públicas, seguindo a lei federal nº11.947/2009.

A legislação determina que, no mínimo, 30% dos recursos que as escolas recebem do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) sejam destinados à aquisição de alimentos da agricultura familiar. Em 2015, os recursos do FNDE para as escolas da rede estadual de ensino foram em torno de R$ 150 milhões.

O superintendente de Acesso a Mercados e Comercialização da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda), Lucas Scarascia, observa que a venda direta para as escolas tem garantido mais renda ao trabalhador rural. Outro aspecto que ele destaca é a crescente oferta de produtos regionais.

“Temos observado que as escolas têm incluído no cardápio alimentos que não eram comumente consumidos por elas, valorizando a produção local. Essa atitude fortalece cada vez mais a vocação regional e a saúde”, enfatiza Scarascia.

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