Número de beneficiados aumentou em comparação aos 806 que o governo Zema havia anunciado anteriormente; documento vai ser usado pela CPI dos fura-filas
A Secretaria de Estado de Saúde enviou, nesta sexta-feira (12/03), à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a nova versão da lista dos servidores vacinados contra a COVID-19 . Atualizado, o documento tem 828 nomes de funcionários que, mesmo sem estarem na linha de frente do combate à pandemia, receberam as injeções. O material vai embasar a Comissão Parlamentar de Inquérito ( CPI ) instalada para apurar o caso dos fura-filas .
O número de beneficiados cresceu em relação ao que fora informado pelo governo em outros dias desta semana. Nessa quinta (11), o então secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse que 806 trabalhadores foram contemplados com as doses. A primeira lista, enviada horas antes da última coletiva de Amaral como integrante do governo, apontava que 500 funcionários do governo estavam na leva de imunizados.
O documento foi entregue ao presidente do Parlamento, Agostinho Patrus (PV), pelo deputado Gustavo Valadares (PSDB), líder do governo de Romeu Zema (Novo) no Legislativo. É a segunda versão do dossiê levada à Assembleia em pouco mais de 24 horas. Ao menos até a definição do presidente da CPI, ainda sem data marcada, o conteúdo não vai ser divulgado.
A primeira versão do documento, recusada por Patrus. também foi enviado por meio de Valadares. Além das inconsistências sobre o número de vacinados, a ausência de timbre oficial da Saúde estadual motivou a rejeição.
“Vou devolver ao deputado Gustavo Valadares a lista dos servidores vacinados que me foi entregue ontem. Em primeiro lugar, o papel que chegou à Assembleia contém número de nomes inferior ao apresentado pelo ex-secretário de saúde. A lista também não apresenta o timbre da Secretaria de Saúde, o que gera dúvidas quanto à sua autenticidade. A ALMG continuará determinada a encontrar a verdade e não aceitará meias respostas. Aguardo, com urgência, a lista correta”, disse Patrus, na manhã desta sexta, ao oficializar a devolução.
O escândalo dos “fura-filas” gerou a demissão do secretário de Saúde do governo mineiro, Carlos Eduardo Amaral. Ele foi afastado por Romeu Zema (Novo) horas após garantir que não pensava em pedir para deixar o posto. O novo comandante da pasta , Fábio Baccheretti, já foi oficializado.
Sabatinado por deputados estaduais, ele confirmou ter optado por receber uma dose “para dar o exemplo”. Além da Assembleia, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) também apura a questão.
O requerimento que oficializa a CPI foi publicado na edição desta sexta do Diário Oficial da Assembleia. Agora, os líderes dos blocos parlamentares do Legislativo mineiro têm cinco dias úteis para indicar os componentes do grupo.
O único com vaga garantida na comissão é Ulysses Gomes (PT), integrante do bloco de oposição a Zema . Ele pode exercer essa prerrogativa por ter sido o primeiro signatário do pedido de CPI. Justamente por isso, pelo Regimento Interno da Assembleia, Ulysses está proibido de ocupar a presidência ou a relatoria do colegiado.
Ao longo da reunião com deputados na quarta, parlamentares pediram a Carlos Eduardo Amaral que apresentasse a lista de vacinados. O secretário, contudo, alegou entraves legais para disponibilizar o documento.
A postura irritou alguns políticos, que passaram a articular a criação da CPI. Os deputados estaduais começaram a falar sobre a possibilidade de criar a CPI ainda durante o encontro com Amaral.
No meio da tarde, a iniciativa foi oficializada em entrevista coletiva. Poucas horas depois, as 26 assinaturas necessárias para protocolar o requerimento foram atingidos. Menos de 24 horas após o início da movimentação, Agostinho Patrus autorizou a abertura do comitê de investigação, com o aval de 39 dos seus 77 colegas.
As CPIs são formadas para apurar denúncias de irregularidades. Uma comissão do tipo têm poderes de Justiça e, portanto, pode convocar suspeitos a prestar depoimentos, ouvir testemunhas e outras pessoas ligadas ao caso em questão. Ao fim dos trabalhos, o grupo de parlamentares constrói um relatório final com as conclusões obtidas ao longo do processo de investigação.
Na Assembleia de Minas, as CPIs podem funcionar por 120 dias. Posteriormente, é possível prorrogar os trabalhos por mais 60 dias.
O grupo vai se debruçar, também, sobre os montantes aplicados no combate à pandemia, sobretudo no que tange à abertura de leitos.