Carlos Eduardo Amaral disse ter tomado a vacina para ‘dar o exemplo’ para o povo. Apesar da justificativa, não há registro público do fato
O secretário da Saúde do governo de Minas Gerais, Carlos Eduardo Amaral admitiu que ‘furou’ a fila da imunização contra a Covid-19 e garantiu o imunizante a outros 500 servidores da sua pasta que estavam fora dos grupos prioritários. Funcionários em regime de home office e fora dos grupos prioritários estabelecidos pelo Plano Nacional de Imunização chegaram a ser convocados para serem vacinados.
Em audiência na Assembleia Legislativa mineira, realizada nesta quarta 10, Amaral confessou que tomou a vacina para “dar o exemplo” para o povo. Apesar da justificativa, a imunização do político não foi registrada ou divulgada em qualquer tipo de campanha.
O escândalo levou o governador, Romeu Zema (Novo), a anunciar, ainda na noite de quarta, a abertura de um inquérito. “Desde as primeiras informações sobre a vacinação de servidores estaduais fora dos grupos prioritários, determinei a imediata abertura de investigação pelos órgãos de controle interno do Estado para apurar possíveis irregularidades”, declarou o governador emendando que determinou o envio imediato da lista de vacinados à Assembleia Legislativa. Amaral, entretanto, continua no cargo.
Deputados estaduais já começaram a articular a instação de uma CPI. O pedido de CPI, feito pelo deputado Ulysses Gomes (PT), já conta com 30 assinaturas e apoio formal do presidente da Casa, Agostinho Patrus (PV) que classificou o caso como um “trem da alegria”. Furar a fila da vacinação sem nenhum argumento razoável, enquanto avós não veem seus netos há mais de um ano e pessoas morrem em hospitais, é motivo suficiente para a ALMG abrir uma CPI e investigar a fundo o absurdo ‘trem da alegria’ da imunização”.
O bonde dos “fura fila” envolveria 500 funcionários do setor administrativo da Secretaria de Estado, o grupo já vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual desde terça-feira 9. A 19ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde enviou à à Secretaria ofício solicitando a lista de nomes e os cargos de todos os funcionários vacinados, apresentando também o balanço de imunização dos grupos prioritários estabelecidos no Plano Nacional do governo federal. A pasta tem cinco dias úteis para responder à diligência.
Ao todo, teriam sido separadas mil doses para imunizar os servidores da pasta e o próprio Secretário de Saúde. O estado de Minas Gerais recebeu, nesta quarta, o sétimo lote de doses de vacinas, totalizando pouco mais de 2,1 milhões de vacinas distribuídas no estado. De acordo com o “Vacinômetro” divulgado pelo governo do estado, 765.338 mineiros já tomaram a primeira dose e 358 mil a segunda dose. A população de Minas é de 20,8 milhões.
“A decisão de vacinar os trabalhadores de saúde da SES-MG foi tomada por deliberação entre os gestores municipais e estaduais por meio da Comissão Intergestores Bipartite do SUS MG – CIB, de 9 de fevereiro de 2021 que esclareceu que fazem parte dos dos grupos iniciais prioritários da vacinação os trabalhadores das Secretarias Municipais de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e órgãos estaduais de saúde que, em razão de suas atividades, tenham contato com o público”, destacou a secretaria em nota enviada para imprensa.